Feliz, Autobiografia, Für Elisa
Antonio D’Alfonso
Translated by: Ana Lucia Silva Paranhos
Original text: "Heureux, Autobiographie, Für Elisa "

Artwork by Marius Teodorescu
Feliz
Profundamente feliz, como o sangue que jorra de súbito de um
ferimento: meu estado presente. Sem língua, senão aquela que excita
minha mulher até que ela abandone-se a si mesma, e a mim. Sem país,
senão aquele dos solitários que vão à frente contra o germe da sociedade.
Qualquer palavra que venha de nós ferirá, inevitavelmente. Por que ridícula
razão humilharmo-nos diante do rígido e do fechado?
Autobiografia
Antes perdido entre revoltas e punições
contra a lei de um mutismo reanimado por promessas eleitorais,
mais tarde decepcionado pelas fúteis e precárias recompensas,
entreguei-me à demência de uma poesia bestial
curada pela agonia e pela inconsciência selvagens.
Sempre sensibilizado, vivia extremamente perturbado
pelos sofrimentos inexpressos dos imigrantes iletrados,
pelos sorrisos corajosos de meus pais, humilhados com frequência
e sempre estoicos.
Hoje, meus dentes são de ferro,
aprendo a morder as barreiras que cercam os falsos sonhos,
construo uma consciência vigilante, sem certezas,
danço ao raiar da salvação coletiva, sem condições,
sirvo-me com tranquilidade do amor ativo do meu próximo.
Für Elisa
Minha inteligência se imobiliza.
O ruído se evapora. Gritamos.
Nesta manhã a esperança nos estende a mão.
Ao despertar, o coração não é contestado.
A pequena Elisa em meus braços,
Ofereço carne da minha carne à dignidade límpida.
Vivamos juntos este amor novo, longe dos atentados televisionados.
Restauro a felicidade nos meus gestos.
Chego a teus sapatinhos.
A meus pés, uma caixa onde tua mãe desenhou dinossauros.
Lá descubro um arrimo sublime que rima conosco.
Né à Montréal, Antonio D’Alfonso est poète, critique littéraire et cinéaste indépendant. En 1978, il a fondé les éditions Guernica. Il est en outre l’un des fondateurs de la revue transculturelle Vice Versa et a été écrivain invité à l’Université McGill en 2008. Il fait partie du conseil administratif de la Maison de la poésie à Montréal et donne des cours sur l’écriture de scénario à l’UQÀM. Ces poèmes sont tirés de L’apostrophe qui me scinde, publié aux Éditions du Noroît en 1998.